segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Parede e a Porta

E de repente, o corredor branco se ergue na sua frente, numa velocidade que tira o fôlego e faz o cabelo esvoaçar para trás numa onomatopéia impronunciável e caótica.


E silêncio.
Não há como desistir, voltar atrás ou sequer continuar. Lágrimas inúteis ousam brotar em seus olhos. Ele se segura no que chama de coragem ou no que sobrou de uma feliz tarde de verão. Não há calor, nem frio. Só silêncio.

E ele começa a caminhar.
Passos que ecoam na esperança de não se sentirem solitários.
Mas são.

Inevitavelmente.
Obrigatoriamente.
Incessantemente.

E a porta.
A porta se escancara de onde não se houvera e a brisa quente o atinge por todos os lados. Quando percebe que não há só uma, mas cinco, quinze, vinte e uma portas. Cada uma mostrando um filme diferente, de cada decisão tomada e de cada caminho seguido.

Ele começa a correr e atinge uma escada. Subindo em espiral, branca e insensível. Corre, sobe, marcha, tropeça, pula, arfa e desnuda. As portas continuam a surgir violentamente, mas aparentam ter a cor-sem-cor, transparente com traços de sonhos e pensamentos.

"Talvez seja o futuro." - pensa em silêncio.

Sempre o silêncio.

E a escadaria continua. As passadas se arrastam como o tempo no fim do dia - rápido e sem ritmo. No final, depois do último degrau, depois da última porta desaparecer no relance, a luz incendeia seus olhos, ávidos por liberdade.

Branca, como sempre fora.