...e estávamos lá, dilacerando soldados e desmembrando pessoas com nossas espadas afiadas e cortes precisos e sendentos por sangue. A cada andar do prédio, os respingos escarlates em nossas faces não passavam de meros incômodos em meio à carnificina que causávamos àquele prédio. O prédio dos traidores, onde todos os ocupantes deveriam cessar de exisitir.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Relato de sonho #0
Postado por Eduardo Escames às 06:08:00 0 comentários
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
A Parede e a Porta
E de repente, o corredor branco se ergue na sua frente, numa velocidade que tira o fôlego e faz o cabelo esvoaçar para trás numa onomatopéia impronunciável e caótica.
Postado por Eduardo Escames às 16:43:00 1 comentários
sábado, 20 de junho de 2009
Céu
Postado por Eduardo Escames às 14:59:00 1 comentários
Marcadores: céu nuvem noite
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Primavera
Você tem a flor que não lhe dei.
De fato, nem a cor dela sei.
Se ela é alta, disofme, perfumada,
de ouro, bronze ou prateada.
Ainda a vejo em seu olhar,
na chama de seu ódio,
na precisão de seu falar,
na ousadia de ratalhar.
Mas há, ainda, a flor.
Flor estúpida, ranzinza, colorida como se borboleta, desprezível, efêmera e inexistente. Digna de dúvida.
E não há flor.
De nenhum jardim, ramalhete, semblante semelhante ao meu.
Repenso, relevo.
Reduzo, elevo.
Chego, passo, devoro.
Rechaço, reluzo, decoro.
De novo...
E há a flor.
E não há a flor.
De novo,
não há dor.
Postado por Eduardo Escames às 10:06:00 3 comentários
Marcadores: flor
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Suco de Morango
Rafael acordou e tratou de rapidamente vestir seu uniforme. Era o segundo dia de aula na escola nova. Estava com o coração batendo rápido assim. Levantou, escovou os dentes com a pasta doce de framboesa (sua favorita) e foi para a pequena cozinha do apartamento.
Sua mãe lhe deu um beijo molhado de bom dia e seu pai abaixou os óculos e cheirou seu cabelo. Seus fios negros embaraçaram, mas logo voltou a arrumá-los com uma das mãos.
Sentou à mesa, comeu um pãozinho com manteiga e tomou leite da branca caneca plástica do Super-Homem. Perguntou as horas e mamãe disse que estava quase na hora de sair. Ficou ainda mais empolgado. Sorriu.
Quando terminou, papai disse que o levaria à escola. Estava de férias do escritório e podia fazer isso por alguns dias. Deram as mãos e após um beijo da mamãe, saíram pela porta do modesto apartamento no primeiro andar e desceram as compridas escadas azuis-bebê até o piso térreo.
Saudaram o porteiro, com o sorriso ainda não havia saído de sua face. Rafa gritou por dentro de excitação. O sol estava forte e descoloria seus cabelos. Sua lancheira brilhava, assim como seu rosto. Até a camisa branca do papai estava mais clara que de costume.
Atravessaram a rua, e passaram pela papelaria. Viu cadernos, uma infinidade de canetas das mais diversas e bonitas cores que já vira. Passaram também o restaurante (que batia as toalhas na calçada), a padaria-com-cheiro-de-pão-com-manteiga, as casas amarelas e a van da tia que fazia cachorros-quentes com mostarda.
Quando chegaram à esquina da rua principal, papai percebeu um movimento bem intenso de carros, e Rafael percebeu que a escola estava do outro lado da rua. Papai percebeu que um carro atrás do semáforo tinha ultrapassado ziguezagueando o sinal vermelho e, Rafa, que aquela nuvem lembrava um pato. Papai viu o carro chegando à esquina em alta velocidade e Rafael olhou seus sapatos desamarrados e abaixou.
Papai se virou e tropeçou sobre Rafael. Caiu em cima de suas costas e fez o menino cair pro lado. O carro veio. Acertou duas senhoras que estavam do lado. Rafael percebeu que quando as moças caíram no chão, soltaram suco de morango pela boca e se contorceram acrobaticamente pra baixo dos pneus fumegantes. Seu sorriso desabou quando percebeu que também havia suco de morango na cabeça do papai.
Papai se levantou, meio tonto, puxando Rafael para longe da fumaça e do círculo de pessoas que havia se formado. Rafa viu a tia do cachorro quente chamando por Deus quando o viu. O abraçou forte que até machucou. Levou ele e seu pai para dentro da van e ligou pra mamãe.
Rafael ficou triste.
Iria perder seu segundo dia de aula.
Postado por Eduardo Escames às 15:01:00 5 comentários
Marcadores: suco morango
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Sorriso
Ando pela rua como se ela não existisse.
.
.
.
As gotas de chuva não conseguem me molhar. Minhas lágrimas não passam de memórias suas, estúpidas, que não consigo esquecer. Me lembro e rechaço as imagens que se formam em minha mente. Elas teimam em ficar, mas não as quero... NÃO ME PERMITO QUERÊ-LAS!
.
.
Você entregou seu sorriso e eu guardei.
.
.
Como?
Como você volta dizendo que nada aconteceu e que nada nunca acontecerá? Pelo sim, pelo não, pelo talvez.
.
.
Afinal, tudo merece uma primeira vez... mas meu rosto ainda está seco.
.
.
Queria que também me entregasse suas lágrimas... por que nem as minhas eu tenho mais.
.
.
.
.
Obrigado pelo que você me fez sentir. Obrigado por ter me feito sentir, ao menos, uma centelha de... de... (amor?)... de qualquer coisa. Obrigado, ainda, por ter rasgado meu coração e por ter dançado ao ritmo de suas batidas...
.
.
...e por não ter me negado seu sorriso. Nunca.
Postado por Eduardo Escames às 14:41:00 5 comentários
domingo, 18 de janeiro de 2009
O crime perfeito
Chuva.
Trovão.
Não acreditei em nenhuma palavra que ele dissera no quarto. Sua raiva espumante parecia insaciável conforme ele falava sobre a traição de Carmen. Embora eu também não acreditasse que ela seria capaz de tal ato, eu pensava, pelo menos, que o instinto assassino de marido nunca iria tomar seus pensamentos daquela maneira.
Matar?
Ele não seria capaz de matá-la. Pelo menos não naquela noite...
Saí do quarto, antes que terminasse a promessa de vingança. Desci as escadas. Saí correndo, rasgando pelo ar e atravessando a porta da frente como se ela não estivesse lá.
Chuva.
Eu precisava vê-la, alcançá-la antes que...
Trovão.
Atravessei a rua correndo, encharcando meu sobretudo preto a cada passada. Olhava no relógio incessantemente e rezava para que ela ainda estivesse a salvo. Não que eu acreditasse em Deus, mas era inevitável pensar que o pior podia acontecer.
Poça d'água.
Cheguei na frente do prédio enfim. Estava arfando, molhado. Enxuguei os óculos tão fortemente que quase cheguei a quebrar. Bati na porta.
Nada.
Bati novamente e não obtive resposta. Corri para o lado da parede de pedra até a janela escura. Olhei pelo vidro e a vi, deitada no chão, ensangüentada.
Não era possível. Não havia dado tempo para a execução. Eu tinha saído antes dele, sabia disso. O desepero tomou conta de minhas ações. Voltei a porta e a arrombei violentamente, sem pensar nos danos ao meu braço que, àquela altura, já não me obedecia.
Cheguei a sala, mas ela não estava lá.
- Me enganei? Não... impossível. Ela estava aqui. Deitada no chão...Carmen...CARMEN!
Disparo.
Um mar de fogo pareceu inflamar minhas costas. Minha visão ficou turva como a chuva que caía do lado de fora. Meus braços, minhas pernas... a dormência era estranha, incomum. Era como se uma névoa negra me envolvesse ao poucos e completamente. Caía no chão tão vagarosamente que meu tempo pareceu parar.
Me virei finalmente e a vi, em pé, com a arma na mão.
- Carmen...
Não entendi nada o que havia acontecido. Não entendi o ódio falso do marido minutos atrás. Não entendi o sangue em seu corpo que nunca havia estado lá. Não entendi a dor que sentia. Não entendi mais nada.
Só descobri que a armadilha que havia caído tinha sido perfeita.
Trovão.
Chuva.
Postado por Eduardo Escames às 11:51:00 2 comentários
Marcadores: crime